sábado, 11 de maio de 2013

E respira fundo

Há umas duas ou três semanas, quando pus finalmente mente à obra e a sério para desenhar uma candidatura a doutoramento,  comecei a comiserar o facto de estar numa cidade francófona. Aaai, que não tenho bibliotecas como deve ser, aaai, que os livros que preciso são tão específicos e cá não há, aaai, que é só coisas em francês e eu preciso de uma cidade inglesa, aaai, que Londres fica tão perto mas tão longe, aaai, que a biblioteca da LSE é que era, aaai, coitada de mim. Escapou-se-me o facto de estar a viver no centro sobre all-things-UE, como também me escapou o facto de que aqui também há universidades, universidades que ainda por cima têm institutos europeus, e que universidades têm bibliotecas, e que sim, vivo numa cidade francófona mas literatura académica é universal e portanto anglófona. E só depois de pesquisar incessantemente como poderia reaver a minha membership das bibliotecas londrinas, é que me lembrei que se calhar devia era pesquisar como conseguir ficar membro da biblioteca da Université Libre de Bruxelles, por razões estupidamente óbvias. 

Solução tão simples para os meus problemas.

Ia cética, tenho que admitir, quando cheguei ao campus da ULB para me inscrever na biblioteca de ciências sociais e humanas. Assim que vi todo o edifício devotado à mesma (após cerca de meia-hora às voltas pelo campus, um mapa copiado à pressa para o bloco de notas, e muito desvio, como é sempre inevitável) o ceticismo deu lugar ao entusiasmo. 


Quando, cerca de duas horas depois, saí de lá com um livro emprestado por duas semanas e possibilidade de o renovar através da net, no conforto do lar, quase que vinha a chorar de alegria por ter encontrado tão honrada substituta para a minha biblioteca favorita. Com o bónus de que posso alugar livros (coisa que não podia na outra, daí as intermináveis tardes passadas naquele edifício gigante na Portugal Street) e que fica a 20 minutos de bicicleta de casa - enquanto a outra ficava a 45 de metro.

Hoje lá fui eu estrear o caminho de bicicleta até à univ para ir buscar nova leva de livros. Perto e caminho razoavelmente plano, que mais posso desejar?

Entretanto descobri que mais de metade dos livros que constam na minha to-read list não estão disponíveis naquela biblioteca, o que me frustra um bocado os planos de preparação. Tenho sempre a opção Amazon, mas por serem livros académicos e demasiado específicos raramente os encontro a preços baixos. Será um problema para solucionar mais para a frente. Entretanto descobri que os meus antigos códigos da King's ainda me dão acesso aos academic journals que vou precisar portanto a questão dos livros em falta foi posta de lado. O computador recebeu um beijo repenicado e um abracinho sentido que em boa verdade não são merecidos porque não é ele que dita o acesso aos valiosos artigos. Mas digamos que fiz o inverso do "shooting the messenger".

Isto tudo para deixar aqui registado que voltei à vida académica, ainda que seja só pré-académica por agora, e que toda a minha santa hora livre vai ser agora dedicada à preparação desta nova fase (não de verdade, senão não estava aqui, mas é mais ou menos isso). Só vou no segundo livro e já sinto o meu cérebro a esticar neurónios que não esticava há muito, como quando se vai ao ginásio após o mês de férias de verão. É quase doloroso. Intervalo com muito olhar para a parede desfocadamente, enquanto tento assimilar o que li (muitas vezes sem sucesso), e que equivale aos alongamentos após corrida intensa. 

Eu não consigo estabilizar no mesmo sítio muito tempo, seja ele geográfico, profissional, ou mental. É uma característica que já reconheci que faz mesmo parte de quem sou e tenho vindo a aprender a viver com ela. Temo que um dia me venha a dar problemas - uma pessoa precisa de uma certa estabilidade na vida para chegar a algum lado, seja para progredir na carreira, seja para criar uma rede de amigos e pessoas importantes na nossa vida num lado qualquer. Mas enquanto não me der problemas não há que lamentá-la.

Vou precisar de muita sorte para os próximos meses e de muito conforto emocional. Já re-abasteci o stock doméstico de Nutella, pelo sim pelo não.   




S.

2 comentários: